Boo-Box e a história de Sucesso do brasileiro Marco Gomes

Marco Gomes
“Como 1% dos empreendedores de mais sucesso lucram com o caos global”. Traduzi os trechos do livro “Brilliant, Crazy, Cocky”, onde a autora Sarah Lacy fala desde minha infância no Gama (DF) até os primeiros anos de empreendedorismo na boo-box.

Fiquei muito honrado em ser o escolhido para abrir o livro com tão inspiradoras histórias de empreendedores de mercados emergentes como China, India, Indonésia e Brasil.

Não acho que minhas batalhas estejam vencidas, nem me considero um empreendedor provado, ainda falta muito chão pra eu considerar a vitória conquistada. Mas é com muita humildade que mostro os trechos abaixo pra vocês, não para me engrandecer (toda honra e glória a Ele), mas para que sirva de exemplo para jovens que, como eu, nasceram e crescem em ambiente hostil e precisam de força para enfrentar as dificuldades.

Sarah Lacy é uma premiada repórter que tem abordado o empreendedorismo de alto impacto por 15 anos. Mora no Vale do Silício, foi editora sênior do TechCrunch, é fundadora do PandoDaily e viaja o mundo procurando grandes empreendedores.

Sarah foi ao DF, conheceu minha família e alguns amigos, comeu pão de queijo feito por minha avó, ganhou frutas da minha mãe, viu as ruas e praças onde cresci, conheceu meu sócio Marcos Tanaka e o trabalho da boo-box em tecnologias para publicidade e mídia social.

Brilhante, Doido, Convencido: como 1% dos empreendedores de mais sucesso lucram com o caos global

Nada a perder

Quando Marco Gomes tinha cinco anos, seus pais o mandaram para uma escola em Brasília, a 40 km de sua casa. Ele ia de ônibus com o pai, que fabricava sofás para as pessoas ricas do outro lado do Lago Paranoá. Sua mãe já o tinha ensinado a ler, mas ela não sabia matemática e queria que ele aprendesse na melhor escola pública que pudesse mandá-lo. Isso ela não podia encontrar no Gama, sua pequena cidade, e matemática seria importante para o Marco.

A aula acabava antes do seu pai terminar o trabalho. Então, Marco Gomes, com cinco anos, andava 1 km até o ponto de ônibus no meio da modernista-sessentista arquitetura da capital do Brasil. Todo dia sua mãe repetia seu nome e endereço em seu ouvido, até que ele pudesse repetir automaticamente quando perguntado, mas ele só conseguia fazer isso se dissesse tudo:

Marco Gomes
Quadra 34 casa 130
Setor Leste
Gama DF
Brasil

Ele repetia de novo e de novo para si mesmo, para não esquecer. Lembrar esse endereço era seu único caminho para casa. “Eu era como um robô”, ele fala, dirigindo por Brasília seu velho Fiat. “Treinado como um cachorro”.

Uma tarde, Marco dormiu no ônibus e perdeu o ponto de descida. No ponto final ele encontrou um policial, o puxou pela manga do uniforme e ordenou: “Leve-me ao seu general.” O policial impressionado levou o menino de cinco anos para o posto de atendimento, onde Marco falou ao superior o que tinha ocorrido e recitou seu endereço. O capitão levou para casa na cabine de um camburão, normalmente reservada para traficantes e ladrões — os que Marco conhecia em sua vizinhaça e entre seus parentes. O camburão andou pelo Gama com as sirenes ligadas, e seus vizinhos, assustados, saíram de casa para saber qual era o problema. Marco com cinco anos pulou fora do carro com sua mochila e disse “sou só eu pessoal!”
Marco Gomes bebê, no Gama, DF.

Lição 1: Não importa o que aconteça, eu posso resolver sozinho.

Marco parou de ir à escola em Brasília aos seis anos de idade. Sua família não podia mais pagar os custos das viagens de ônibus e de seu almoço todo dia. Ele sentia saudade dos professores. No Gama, muitas crianças não aprendiam a ler até a adolescência ou depois, e ele ficava entediado ao assistir as aulas com eles. Ele sentia saudade de correr atrás de pombos na Praça dos Três Poderes após a aula, com seus braços e pernas flutuando. Ele sentia saudade até do ônibus.

Marco entrou na casa dos pais feita com tábuas de madeira, uma das muitas casas que ele morou nos primeiros anos da sua vida. Seu pai estava debruçado sobre um prato no meio da sala. “Marco! Vai pro quarto!”, sua mãe gritou para ele. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Ele não gostava de se meter em problemas e nem sabia o que havia feito.

Mais tarde ele perceberia que aquele prato estava com cocaína e que seu pai era um viciado. Aquele pó branco, do qual sua mãe sempre o protegia, era o maior culpado por seus pais não terem mais dinheiro para o ônibus. Era o motivo das brigas dos seus pais. Era a justificativa por seu pai ter perdido uma série de empregos. Nos anos seguintes, o homem que vendia aquela droga mataria a pedradas o primo do Marco. O índice de violência letal nas favelas do Brasil é comparável à uma guerra civil moderna. Nas piores áreas, uma em cada cinco pessoas perdeu alguém querido e muitas culpam a polícia pela inabilidade ou falta de vontade de controlar a situação. Marco perdeu apenas alguns amigos enquanto crescia, mas falar sobre morte no Gama era uma rotina, como falar do tempo.

“Lembra daquele cara que ficava na esquina o tempo todo?”
“Ouviu o que rolou com aquele cara da bike branca?”

Lição 2: O dinheiro rápido do tráfico de drogas brasileiro não era tão glamuroso quanto parecia.

Quando Marco tinha oito anos, um amigo o levou para uma igreja evangélica. O Brasil é o maior país católico do mundo, mas no final dos anos 90, o protestantismo evangélico ganhou espaço nas comunidades mais pobres do país, enquanto a visão conservadora católica oferecia pouca esperança. De 1991 a 2000, o catolicismo caiu 10% no Brasil e o protestantismo cresceu de 9 para 15% da população, de acordo com o Censo nacional.

Em lugares como o Gama, o movimento não acontece em igrejas luxuosas; ele se espalha em salões comerciais baratos, perto de lojas de conveniência ou barbearias. Nunca há uma cruz, pois isso é um símbolo muito católico. Ao invés da cruz, você pode reconhecer uma igreja evangélica pelas fileiras de cadeiras plásticas simples e a bateria.

Marco se apaixonou pelo cristianismo evangélico. Ele gostava das histórias, das músicas, do sentimento de comunidade, da crença que havia algo maior — alguém lá em cima olhando e cuidando dele. Em um mundo onde seus semelhantes estavam sendo seduzidos pelo dinheiro rápido do tráfico de drogas, Marco achou Jesus viciante.

Certa noite, ele chegou em casa após o culto e seus pais estavam gritando um com o outro. Eles estavam a beira do divócio. Naquela noite ele começou a evangelizá-los. Com o tempo ele convenceu seu pai a largar a cocaína e a salvar o seu casamento. Seu pai está sóbrio desde então e, junto com sua mãe, é ministro evangélico no Gama. “Lá fora ainda era o caos, mas ao menos dentro de casa era melhor,” ele diz.

Marco não lembra o que disse de tão poderoso aos seus pais naquela noite. “Você pode ver pelo ponto de vista psicológico e dizer que as drogas tiraram tudo do meu pai e ele estava prestes a perder sua família”, diz Marco, doze anos depois. “Ou você pode ver sob o ponto de vista sobrenatural e dizer que Deus o salvou. Eu não ligo. O importante é que ele parou de usar drogas.”

Lição 3: Ninguém está fora do alcance da redenção.

Marco começou a montar computadores aos 12 anos de idade. Seus tios eram muambeiros, compravam brinquedos no Paraguai e os traziam pela fronteira do Brasil, onde os vendiam no mercado negro. Quando seus tios foram presos, eles passaram a contrabandear peças de computador; a maioria dessas peças eram pequenas e eles podiam remontá-las ao chegar no Brasil. Marco adorava fuçar essas peças quando seus tios dormiam, aprendendo sozinho como juntar os blocos de oportunidade e informação na forma de circuitos, placas-mãe, e discos-rígidos, como um duende consertando sapatos enquanto os sapateiros dormiam no quarto ao lado.

Alguns anos depois, um de seus tios estava correndo pela floresta com seis enormes monitores de tubo CRT pendurados no pescoço, foi quando ele decidiu mudar. Após outra prisão, ele legalizou o seu negócio, abrindo uma loja de computadores em um porão na Asa Norte de Brasília, perto de uma academia de artes marciais ensopada de suor. Ele ainda monta computadores baratos, mas agora com partes compradas em lotes, através de canais legais.

Marco trabalhava lá todo verão. Gritavam com ele quando cometia um erro e o sacaneavem sem compaixão, do jeito que garotos são tratados em uma família comandada por homens. Mas ele ganhava o suficiente para comprar revistas em quadrinhos e um skateboard, o que ele adorava.

O negócio de seu tio – completamente baseado em recomendações boca-a-boca – cresceu. Ele era o cara mais rico da família do Marco. Tinha várias casas, um carro e uma lancha, que usava pra navegar no Lago Paranoá - lago artifical cristalino, construído em parte para separar os homens ricos dos pobres. Um único ônibus de manhã pegava os pobres que trabalhavam para os ricos do outro lado do lago, e um único ônibus os trazia de volta a noite. Eles aprenderam a não perder este ônibus. Não há outra maneira de cruzar o lago a menos que você tivesse um carro ou uma lancha, como a do tio do Marco. “Era como em Baywatch,” diz Marco, acrescentando timidamente “mas, infelizmente, não tínhamos as garotas.”

Lição 4: O crime não paga, mas computadores pagam.

Aos 12 anos de idade Marco conseguiu sua primeira, lenta, conexão discada à Internet. Ele ficou extasiado como naquele primeiro dia na igreja. Essa conexão o apresentou a empresas como Yahoo! e Google, e ele leu sobre os ricos empreendedores americanos por trás dessas empresas. Ele começou a aprender sozinho a programar, não porque pensava que seria um desses empreendedores, mas porque amava isso do mesmo jeito que amava quadrinhos e skateboards. A ideia de montar uma empresa de Internet era tão ridícula quanto pensar que ele se tornaria o próximo James Cameron, só porque amava os filmes do Exterminador do Futuro. A possibilidade sequer lhe ocorria.

Era como no passado, quando seu pai ainda fabricava sofás e Marco o acompanhava nas entregas em mansões multi-milionárias, do outro lado do lago. Crescendo em um mundo onde os graus de pobreza são medidos pelo que é feito as paredes de sua casa, Marco se impressionava com a ostentação. Ele viu uma TV tão alta quanto ele e ficou observando as formigas do comercial da Coca-Cola que passava na época. Na sua pequena TV em casa, ele mal podia dizer o que as formigas eram, mas naquela tela imensa elas eram gigantes, vibrantes e com vida. Ele mal podia tirar seus olhos da TV, mas não era porque a queria para si. Essa realidade era muito distante da sua vida para que sentisse qualquer coisa como inveja. Assim como abrir uma empresa de Internet, essa TV era para outras pessoas, não para o pobre e pouco instruído Marco Gomes.

Essa foi a Lição 5, só dessa vez a lição estava errada.

Dez anos após ele conseguir aquela conexão discada, Marco criou sua própria empresa de Internet, pegou investimento de capital de risco, mudou-se pra São Paulo e tornou-se um ícone para outros aspirantes a empreendedor de Web pelo país. No verão de 2010, Marco estava em um vôo para a Europa, onde pediria sua namorada em casamento em Paris, na França, e depois receberia um prêmio como empreendedor em Barcelona, na Espanha. Suas mãos suavam ao pensar nos dois eventos e, por mais que ele tentasse se conter, era notável sua mudança de vida.

Marco tem várias pessoas para agradecer por sua vida ter mudado tanto, considerando como começou: sua mãe, pela determinação para que ele estudasse; seu pai, por largar as drogas; seu tio, que o ensinou que empreendedorismo não era só pra traficantes; aquele amigo que o levou pra igreja; e, é claro, as pessoas que criaram a Internet. Mas, primeiramente, Marco tinha que agradecer ao século 21. Simplesmente por conta do quando ele nasceu, onde ele nasceu não importa.

Esse livro é sobre grandes empreendedores– o brilhante, o doido, o convencido, o focado – pessoas que criam empresas que mudam vidas e fazem mais para tirar milhares da pobreza, do que a maioria dos programas governamentais ou organizações não-governamentais. Nós não estamos falando sobre empreendedores por sobrevivência operando com microcréditos. Esse livro é sobre os empreendedores de alto-impacto, que são os filhos da puta sonhadores, visionários, megalomaníacos e arrogantes, que vêem o mundo de um jeito diferente e criam empresas por motivos que eles nem sempre conseguem explicar, eles só não conseguem fazer de outra maneira. É o tipo de empreendedorismo que criou empresas como FedEx, Apple, Googlee Microsoft e inspirou milhões que poderiam fazer igual. E agora, está refazendo o mundo.

Daqui mil anos, quando olharmos de volta para o século 21, a história dominante não vai ser dos países desenvolvidos usando os países emergentes como uma graciosa fonte de mão-de-obra barata e classes médias famintas por novos produtos e serviços. Vai ser a história da formação de um mundo novo, com superpoderes crus, violentamente e caoticamente tomando os pisos do mundo. E não será história de políticos. Será história de empreendedores como Marco Gomes.


Capítulo 8
Você sabe com quem está falando?

O Brasil não é uma economia em crescimento acelerado que deixa todos para trás, como a China. Nem sequer é uma economia em crescimento lento que um dia deixará todos para trás, como a India. Nem é um lugar que se supera economicamente graças a política inteligente e predisposta a correr riscos como Israel. Isso leva a um empreendedorismo que é uma mistura de empresas surgindo, aparentemente com pouco em comum umas com as outras. E, ao contrário de Israel, China e India, os Estados Unidos estão passando longe do seu crescimento. Mas o Brasil tem uma grande coisa a seu favor, que eu não achei em nenhum outro país: o pobre no Brasil sonha alto.

“Ah! Aqueles são meus amigos”, diz Marco Gomes, fazendo uma curva rápida e fechada. Nós estamos no Fiat surrado que ele dirigia quando morava no Gama, e uma placa escrito “Jesus, o segredo da paz” ainda está no painel. Marco para em um estacionamento onde quatro moleques sem camisa saltam de diferentes estruturas. É quase noite de sábado e, enquanto vamos passando por alguns adolescentes, Marco nota que o movimento já está rolando. “É a cena de paquera do Gama,” ele diz, apontando na direção deles. “Os homens param, ligam o som alto, as garotas dançam, e eles pegam uma.”

Seus amigos estavam fazendo Parkour, um esporte de ginástica urbana popularizado online. Marco chega e eles todos sorriem.

“Fala sua bichona”, um deles fala em português, dando um aperto de mão que se transforma em um abraço.

“Vai se foder moleque”, Marco responde. É uma linguagem chocante para um cristão devoto, mas esse não é o Brasil que você vê nos cartões postais. Quando Marco estava crescendo aqui, certas áreas eram proibidas, marcadas por grupos de homens suando no sol escaldante com armas nos ombros. Algumas vezes, esses homens eram traficantes, em outras, policiais. Marco não gostava de chegar perto demais pra descobrir. Parecer durão é o primeiro passo para não levar um tiro. No entanto, depois Marco me diz, envergonhado, que está feliz por eu não falar português.

Um grupo local de Parkour foi ideia do Marco em 2008 [sic 2004], quando ele trabalhava em uma agência de publicidade em Brasília. Ele achou que seria uma boa distração para uma cidade satélite que tinha pouco além do emprego público e a tentação de cair no tráfico de drogas. O Marco cresceu e o Gama saiu da pobreza para a classe média, mas a felicidade ainda é poder trocar de carro todo ano e pagar TV a cabo. De acordo com ele, há apenas duas maneiras de fazer isso: trabalhando para o governo ou vendendedo drogas.

Quando Marco se mudou para São Paulo para começar a boo-box, sua empresa de anúncios online, 50 jovens estavam no grupo de Parkour. Desde que ele saiu, poucos permaneceram longe das drogas. As ruas podem ter sido asfaltadas e as casas de madeira viraram de tijolos, mas algumas coisas no Gama não mudaram.

O futuro do Marco nem sempre pareceu tão promissor. Ele saiu da universidade porque estava entediado e ganhou alguma experiência criando websites para pequenas empresas, como estagiário de uma agência de publicidade em Brasília. Ele ficou chocado com o valor que grandes empresas gastavam para construir websites simples, que ele construia há anos gastando quase nada. Com 19 anos ele era líder da equipe interativa.

Marco começou a fazer experiências com novos formatos de publicidade, e um chamou a atenção de blogueiros do Vale do Silício. Era uma caixa que blogueiros podiam embutir em textos e imagens relacionadas a produtos, que, com um clique, poderiam levar você a comprá-lo. TechCrunch, o blog que escreve sobre todas as empresas de mídia social que o Marco adorava, disse que a boo-box tinha potencial para ser comprada por Amazon ou eBay, e Marco – que nunca pensou que a vida de empreendedor era uma opção pra ele – foi às alturas. Eric Acher, um investidor de São Paulo, viu o post e ligou para o Marco, mesmo sem o conhecer. “Após uma conversa eu decidi investir nele”, diz Eric. Foi menos a ideia, que na época era de um produto inovador. Foi o Marco. Havia algo sobre ele.

O tio do Marco – aquele que costumava contrabandear computadores até abrir uma loja – é o exemplo mais próximo de um empreendedor que o Marco teve na vida, mas nem ele consegue entender esse novo mundo de alto-impacto que o sobrinho vive.

“Ele te deu 300 mil dólares? Pelo quê?” seu tio perguntou, incrédulo sobre a primeira rodada de investimento.
“Por minha empresa”, Marco respondeu.
“Que empresa?”, seu tio protestou. “Você não tem empresa!”

Mas em pouco tempo, Marco tem mais de 20 funcionários [em fev-2012 são 75] e uma empresa maior que seu tio jamais teve.

Eu perguntei para a mãe do Marco se ela ficou surpresa quando ele saiu do Gama. Nós estávamos sentados em uma casa bagunçada, de dois cômodos, que o Marco vivia há alguns anos, enquanto seus pais trabalhavam a milhares de quilômetros de distância, no meio da Amazônia, perto da fronteira com a Bolívia. Ela estava fazendo maquiagem em uma sobrinha, que ia para uma festa a fantasia dos anos 60 naquela noite, desenhando longas linhas em suas pálpebras com um delineador líquido antigo. A bebê da sobrinha chorou nos braços de uma prima no canto. Sua mãe parou a maquiagem, olhou para o Marco, sorriu, e me disse que não ficou surpresa. Ela, também, sempre achou que havia algo especial nele. “É com o irmão dele que estou preocupada”, ela acrescentou sorrindo. Fica claro que o Marco sente um misto de culpa, orgulho e conforto quando visita sua cidade natal. Ele diz que se a boo-box der muito certo, vai pagar para os pais trabalharem como missionários na Amazônia por um ano.

boo-box é uma rede de anúncios online que agrega espaço de propaganda de milhares de blogs, perfis de twitter, vídeo, e qualquer outra mídia online, oferecendo aos anunciantes uma enorme massa de audiência de mídia social brasileira, espalhada por milhares de sites. De uma perspectiva do Vale do Silício, esse negócio estaria condenado à morte, mas ainda é novidade no mercado de 2 bilhões de dólares de publicidade online no Brasil, e a boo-box tem uma abordagem bastante criativa, constantemente experimentando novos formatos, que anunciantes podem comprar. O Brasil tem aproximadamente 25% de penetração de Internet, então há muito espaço para crescer.

Muitos americanos veêm publicidade como um irritante pagamento para consumir informação grátis, mas Marco chama isso de coluna fundamental do capitalismo. Ele acha que qualquer um publicando qualquer coisa online deveria ter o direito de ganhar dinheiro por isso – mesmo que sejam moedinhas por twitts. No Vale do Silício, muitas pessoas acham que a ideia de sugerir produtos para seus amigos é mercenária e imoral. Mas vendo a vida da qual a Internet catapultou o Marco para fora, tudo se torna diferente. Para o Marco, é sobre dar poder a qualquer um conectado à Internet para achar sua própria saída.

Eu esperava que o empreendedorismo feito na favela fosse um grande tema neste livro. Há algo sobre não ter nada a perder que te faz arriscar-se mais e te deixa mais faminto. Empreendedorismo é sobre mudar o status quo e os mais excluídos são logicamente os que estão empurrando mais forte para esta mudança.

Muitos empreendedores – como o Marco – não esperaram a pacificação chegar. Eles são exceções, mas há uma geração de empreendedores brasileiros nascidos nas favelas que, um a um, usaram o que tinham pra criar uma empresa e uma nova vida. É cada vez mais uma terceira opção para o violento, mas poderoso tráfico de drogas, e a vida como um cristão evangélico com um trabalho virtuoso e mal-pago. Para o Marco foi a Internet. Para a Zica Assis foi seu cabelo pixaim.

Pra continuar lendo a história de Zica Assis e muitas outras, compre na Amazon o livro Brilliant, Crazy, Cocky em papel ou o eBook para Kindle (leia no seu smartphone, tablet, computador ou no próprio Kindle).

Fonte: Marcogomes.com


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